CONTRASTE NO OLHAR DESCRENTE
Nesta tarde, tal
como as outras tardes de domingo em que me encontro na minha terra natal, saĂ
de casa com o propĂłsito de desanuviar e apreciar um bom pĂ´r-do-sol na praia dos
pobres. Praia que dos pobres só tem o nome, por ser um lugar acolhedor não se andanças
quotidianas.
Nunca foi um
lugar amavelmente higiénico, talvez porque lugares limpos geram incómodos, ou a
vontade de manter limpo o nosso espaço de lazer, seja menor que a preguiça e ao
cĂłmodo da partilha paradoxa do lixo e luxo.
Situada numa
zona especifica, unindo de uma forma apaixonante o doce caudal do vasto e
misterioso rio Zaire e grandeza esplêndida do sal do oceano atlântico, nunca
mescla indelével e impar, prolificando uma vista ao longe do horizonte, à uma
das suas varias ilhas. O padrão, o berço da penetração colonial, o manancial do
territĂłrio que hoje chamamos Angola.
Sentado na sua
areia escura, uma caracterĂstica individual, me deliciava na companhia da minha
máquina fotográfica, registando os momentos que a praia me proporcionava. Os
miĂşdos que nadavam, outros que chegavam perto e recuavam, os mais velhos
sentados em suas mesas deliciando-se com as ultimas cervejas e umas boas
MABANGAS, ou ainda o mais velho que levou a sua amante, para um lugar mais
sossegado. Em fim, a praia dos pobres e assim: acolhe tudo e todos, nĂŁo se
importando com a natureza de quem nele se refugia.
Num momento em
que tinha que me sentir completamente livre e leve, senti-me invadido por uma
nuvem de medo, ao ver a quantidade de fumo que ofuscava o sol que
proporcionaria um lindo pĂ´r-do-sol, criando um contraste entre o desejado
progresso e o bem-estar social e ambiental da nossa praia, principalmente os
futuros danos que esta nuvem poluente irá causar-nos.
NĂŁo sou nenhum
ambientalista, mas estou certo de que esta ganância desenfreada pelo progresso
irá fazer-nos arrepender dos pecados mais cedo ou mais tarde. As noites são tão
claras para quem olha a água da praia, iluminado pelo sĂmbolo da poluição
disfarçada de progresso. Já não falta muito para a nossa biodiversidade
procurar nossos aposentos, já não falta muito para os nossos céus perderem o
clarão e ficarem todos decorados com o escura da fumaça, já não falta muito
para estarmos todos contaminados por doenças estranhas, não falta muito para a
natureza reclamar e declarar-nos uma guerra.
Chegara o
momento em que esta nossa linda praia será vista apenas como um pedaço de
saudade que ficará no tempo, uma marca no coração de quem busca consolo nas
suas ondas silenciosamente falantes. A ânsia pelo desenvolvimento rapidamente transforma-se
m veneno Ă© sĂł uma questĂŁo de tempo para que os seus efeitos comecem a fazer-se
sentir. Um olhar descrente me acompanha enquanto olho prá o céu e sinto o fumo estorvar
a quilo que seria um visĂŁo digna de ser registado na alma e congelada no quadro
do tempo.
Enquanto isso,
caminho lentamente, sinto os ventos dos seus cheiros, o aroma do som das suas
ondas lentas e apaziguantes. Praia dos pobres, tĂŁo pobre capaz de oferecer ao
rico o que ele mais precisa, proporcionar a mais pura das belezas da natureza,
numa mistura de alegrias e tristezas, nesta briga constante de progresso e
retrocessos.
By Nlando Tona
Foi bom gostei da cena força
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