Quando o Tempo se Esvazia

Neste dia não me apetecia escrever, não queria conversar ou sair da casa. Senti-me invadido por um furacão de sentimentos mistos e confusos, um paradoxo que as palavras não definem. Cogito que toda gente já se tenha deparado com o Sr. vazio. Um senhor vasto em intensidade presencial. Presente em poucas horas, mas tão forte que parece não ter fim. Caracterizado por ser impreenchível. Palavras, birras, liambas e cobertas, confessam-se raquíticos ao poder do seu frio.

A casa parecia um lugar vazio. Quem nunca se sentiu só, triste e distante do mundo? As vezes o mundo e tão rude, que nos obriga à abdicarmo-nos dele. Fugir do calor sua presença, do constante desconforto, das marés de traições e desilusões. O mundo as vezes fecha à tranquilidade, o bem-estar, o sossego e a paz de espírito. Proporcionando num formato 3D, mais crise na economia, mais rebeliões, mais discórdias. Menos amor e mais egocentrismo mundial.

É uma questão de olhar além dos olhos, para perceber que a maior crise mundial não é económica, ou financeira, mas sim, de auto conhecimento de espírito. Há muito por se estudar, construir e descobrir. Não refiro-me as estruturas das cidades modernas, dos carros... Falo do homem na sua mais pura essência. Por cada segundo que passa, distanciamo-nos quilómetros à mais do que realmente deve ser entendido, é preciso fechar as portas do mundo, para abrir as de outro mundo.

Muitos visionários nas suas jornadas compreenderam que a natureza do mundo é a constante mudança, a vibração incontornável e imparável. Também, concluíram que o segredo do homem reside dentro de sí. Sócrates disse «conheça-te a ti mesmo», Jesus, «o reino de Deus está dentro de vos», Buda recomenda que procuremos em nós mesmo, que o procuramos no mundo. É preciso enxergarmos dentro nós quem somos.

Muitas vezes me questiono sobre como seria o mundo se cada um de nós doa-se o máximo de suas energias para melhora-lo? Como seria se todos se abrissem em prol do mundo, de vê-lo ser um lugar de paz? O que seria do mundo se aprendêssemos a ama-lo mais?

Repugno quem defende as desordens mundiais acusando as diferenças. Se repararmos, à harmonia da natureza, baseia-se na coabitação equilibrada de diferentes seres. Numa era em que se ateia as diferenças, esquece-se, que somos mais semelhantes do que diferentes. Olhamos para os outros, esquecendo que a ideia dos outros, no fundo, trata-se de um reflexo que é nosso. Os outros na verdade, somos nós, somos tudo enquanto o tudo estiver em nós.

Acredito na essência do ser humano. Acredito no amor. Embora esquecido por muitos, ele reside escondido nos recônditos cantos do ser. Ofuscado por pilhas de informações diárias. Mas sempre que pode, emerge à superfície com uma intensidade enigmático, implorando que busquemos e tomemos as rédeas das nossas vidas, que sejamos os guiões para um mundo de paz. O Sr. Vazio, pode ser a fechadura do mundo das dores e das confusões. A chave que abri o mundo das descobertas, a passagem para o conhecimento. O catálogo para a descoberta do eu superior.

By: Nlando Tona