PAPELINHOS PEQUENINOS
Foi o que ela me disse
antes de começarmos o exame. Aparentemente ela já estava adubada, leu toda
matĂ©ria possĂvel Ă sair na prova. Tinha todas as páginas em papelinhos que funcionavam
como bĂşssola, indicando o norte de cada sumário, cada exercĂcio lecionado ao
longo do semestre. Cheguei a matutar que ela havia estudado de verdade, tendo
em conta o domĂnio que exercia perante as lições, os resumos e a forma como
catalogou-os em papelinhos pequeninitos.
Sempre que estamos
prestes a realizar uma nova prova, o clima Ă© de guerra na sala de aulas. Uma
agitação desgovernada, correrias daqui e acolá, todos preocupados em ocupar as últimas
carteiras. As Ăşltimas filas ganham preferĂŞncia, as roupas de longo alcance
substituem as curtinhas. A ideia Ă© dificultar ao máximo o perĂmetro visual do
professor. - Ele nĂŁo pode ver o que temos escondido. As nossas folhas, os nossos
telefones, os fascĂculos escondidos nos fatos de panos, as escritas nas
palminhas das mĂŁos, nas coxas em fim. O professor nĂŁo pode descobrir o quanto
estamos fraudulentamente tronchudos e preparados a enfrentar esta guerra.
Já é uma prática
antiga. Não fomos nós que a inventámos, também aprendemos com eles. Dizem que,
o professor mais atento nas cabulas é porque, foi também um grande Cabulador. Nas
escolas actuais, ou você é esperto ou serás o coleccionador de cadeiras que nem
servem para mobilar o quarto. Aqui, quanto mais te esforças, mais submerges em
abismos de desilusões, porque os menos empenhados estão sempre aprovar, uns
aprovam porque cabulam, outros pagam, outros porque sĂŁo amigos ou os seus pais,
é que são amigos do professor. Aqui aprova-se por corrupção, cunha, menos por
conhecimento.
Devolvam a minha pata,
já apanharam-na muitas vezes, desta vez, veremos quem e a mais esperta.
Continuem com as vossas influências neste tráfego, cansei de reprovar, já chega,
agora veremos quem é a burra. Participo nas aulas, emito opiniões racionais e
construtivas sobre a matéria, esforço-me calorosamente, cumpro com os meus
deveres com zelo e disciplina, mas vĂłs tendes o gosto de reprovar-me ao vosso
belo prazer. Chega, farei como os outros, fartos da vossa tirania, embarcaram
por vias menos convencionais.
As instituições de
ensino, chegam a ser os pontos mais importantes da vida em sociedade, apĂłs as
instituições de saúde. Os tratos por eles evidenciados devem sempre pautar
pelos valores e princĂpios estruturantes de uma sociedade coesa, ou seja o
tratamento deve ir de encontro com os anseios da comunidade de que fazem parte.
Quando uma instituição de ensino se deixa corromper, a transladação de
conhecimento, ou seja o cumprimento da sua missĂŁo fica completamente afectada,
os valores e princĂpios transmitidos chegam banhadas de imaterialização, porque
o discurso contrasta com a realidade dos factos.
Ouve-se em bom-tom que
bons hábitos cultivam-se paulatinamente e aos detalhes. Muitas vezes o sufoco
obriga-nos a seguir atalhos menos plausĂveis e cujo as consequĂŞncias por vezes
sĂŁo desastrosas. Ficando a honra a honestidade, o respeito e humidade
intelectual jogando no banco dos suplentes paridas por uma sensação de
descrença e falta de reconhecimento. O tratamento desigual gera conflitos
eminentes entre os membros, quando esta desigualdade Ă© proporcionada por uma
entidade cujo poder seja superior da aquele que se sente lesado, este,
impotente de poder de reacção, procura igualar-se a qualquer custo e, muitas
vezes termina navegando em mares em que os resultados sejam imprevisĂveis.
Quase que perco o a
corda do que vos ia contanto. EntĂŁo, quando ele (o professor) chegou a porta, o
império silêncio já mantivera os seus súbditos controlados. Ele perguntou e
apelou para que quem tivesse um papelinho pequeninito escondido o jogasse fora,
mas ninguém tinha. Éramos todos inocentes ate que fossemos apanhados. Logo
depois a distribuição de enunciados, agitação voltou, mas desta vez com uma subtileza
sublime, cuja revelação Ă© proibida e punida nos termos da (…) com a pena (…).
Quanto a ti meu caro
leitor, acredito que estejas a olhar para cada sĂlaba que compõe este texto com
um ar de reprovação, porque eu escolhi seguir o caminho fácil, mas, afinal quem
Ă© o culpado, eu que deixei-me corromper ou a minha escola que obrigou a ser
corrupto e a seguir este caminho?
By: Nlando Tona
By: Nlando Tona
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