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PAPELINHOS PEQUENINOS


Pequenos papelinhos, escritas pequeninitas, nas partes abscônditas e voluptuosas de um corpo serralebado. Secretos, dobradinhos e encachados em folhas virgens, transpirando o calor dos seios, inspirando receio de quem os poderia retirar. Há que se estar calmo, descontraído e relaxado, o importante é não evidenciar o menino indício de nervosismo. O professor não pode se quer desconfiar que eles existem, porque se não ficará tudo perdido. É prova e por isso vale tudo, tenho de aprovar de classe, não importa qual é veículo que tomo para alcançar este propósito. Estuda-se para aprovar e os meios justificam os fins.

Foi o que ela me disse antes de começarmos o exame. Aparentemente ela já estava adubada, leu toda matéria possível à sair na prova. Tinha todas as páginas em papelinhos que funcionavam como bússola, indicando o norte de cada sumário, cada exercício lecionado ao longo do semestre. Cheguei a matutar que ela havia estudado de verdade, tendo em conta o domínio que exercia perante as lições, os resumos e a forma como catalogou-os em papelinhos pequeninitos.

Sempre que estamos prestes a realizar uma nova prova, o clima é de guerra na sala de aulas. Uma agitação desgovernada, correrias daqui e acolá, todos preocupados em ocupar as últimas carteiras. As últimas filas ganham preferência, as roupas de longo alcance substituem as curtinhas. A ideia é dificultar ao máximo o perímetro visual do professor. - Ele não pode ver o que temos escondido. As nossas folhas, os nossos telefones, os fascículos escondidos nos fatos de panos, as escritas nas palminhas das mãos, nas coxas em fim. O professor não pode descobrir o quanto estamos fraudulentamente tronchudos e preparados a enfrentar esta guerra.

Já é uma prática antiga. Não fomos nós que a inventámos, também aprendemos com eles. Dizem que, o professor mais atento nas cabulas é porque, foi também um grande Cabulador. Nas escolas actuais, ou você é esperto ou serás o coleccionador de cadeiras que nem servem para mobilar o quarto. Aqui, quanto mais te esforças, mais submerges em abismos de desilusões, porque os menos empenhados estão sempre aprovar, uns aprovam porque cabulam, outros pagam, outros porque são amigos ou os seus pais, é que são amigos do professor. Aqui aprova-se por corrupção, cunha, menos por conhecimento.

Devolvam a minha pata, já apanharam-na muitas vezes, desta vez, veremos quem e a mais esperta. Continuem com as vossas influências neste tráfego, cansei de reprovar, já chega, agora veremos quem é a burra. Participo nas aulas, emito opiniões racionais e construtivas sobre a matéria, esforço-me calorosamente, cumpro com os meus deveres com zelo e disciplina, mas vós tendes o gosto de reprovar-me ao vosso belo prazer. Chega, farei como os outros, fartos da vossa tirania, embarcaram por vias menos convencionais.

As instituições de ensino, chegam a ser os pontos mais importantes da vida em sociedade, após as instituições de saúde. Os tratos por eles evidenciados devem sempre pautar pelos valores e princípios estruturantes de uma sociedade coesa, ou seja o tratamento deve ir de encontro com os anseios da comunidade de que fazem parte. Quando uma instituição de ensino se deixa corromper, a transladação de conhecimento, ou seja o cumprimento da sua missão fica completamente afectada, os valores e princípios transmitidos chegam banhadas de imaterialização, porque o discurso contrasta com a realidade dos factos.

Ouve-se em bom-tom que bons hábitos cultivam-se paulatinamente e aos detalhes. Muitas vezes o sufoco obriga-nos a seguir atalhos menos plausíveis e cujo as consequências por vezes são desastrosas. Ficando a honra a honestidade, o respeito e humidade intelectual jogando no banco dos suplentes paridas por uma sensação de descrença e falta de reconhecimento. O tratamento desigual gera conflitos eminentes entre os membros, quando esta desigualdade é proporcionada por uma entidade cujo poder seja superior da aquele que se sente lesado, este, impotente de poder de reacção, procura igualar-se a qualquer custo e, muitas vezes termina navegando em mares em que os resultados sejam imprevisíveis.

Quase que perco o a corda do que vos ia contanto. EntĂŁo, quando ele (o professor) chegou a porta, o impĂ©rio silĂŞncio já mantivera os seus sĂşbditos controlados. Ele perguntou e apelou para que quem tivesse um papelinho pequeninito escondido o jogasse fora, mas ninguĂ©m tinha. Éramos todos inocentes ate que fossemos apanhados. Logo depois a distribuição de enunciados, agitação voltou, mas desta vez com uma subtileza sublime, cuja revelação Ă© proibida e punida nos termos da (…) com a pena (…).

Quanto a ti meu caro leitor, acredito que estejas a olhar para cada sílaba que compõe este texto com um ar de reprovação, porque eu escolhi seguir o caminho fácil, mas, afinal quem é o culpado, eu que deixei-me corromper ou a minha escola que obrigou a ser corrupto e a seguir este caminho?

By: Nlando Tona

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