FINGIDA CEGUEIRA
Alguém diga neste
polĂcia, para dizer na tia, que Administrar nĂŁo se resume em varrer e arrumar
as cadeiras de casa – disse ele todo revoltado. Aqui vive-se muito mal, anda
toda gente a brincar as cegas, parece que ninguém enxerga o quanto as coisa vão
mal. Precisamos tomar uma posição ou nunca sairemos desta brincadeira sem razão
de ser.
Seu rosto inconformado
e revoltado, embirrava constamente, ou pela situação caótica, ou pela
ignorância de não compreender.
- Como Ă© que as coisas chegaram
Ă esta fase? No tempo do ti Manu El nĂŁo era nada assim, como Ă© que a tia que Ă©
Toma (+), Ă nossa mĂŁe consegue viver nesta insĂpida e fingida cegueira
colectiva? Como Ă© que ela consegue dormir enquanto o municĂpio submerge ao
abismo da degradação?
Isso nĂŁo deve continuar
assim, temos de fazer alguma coisa!
- Se eu nĂŁo lhe
conhecesse desde os bica-bidóns nos filmes de infância, diria que o gajo era um
revolucionário – mas o gajo era bom demais para essas coisas, essas coisas
levam as cadeias onde uns saiam e outras, ouve-se por alto que sĂŁo cortejados e
os pedaços dos corpos são jogados no campeonato dos jacarés.
Ninguém sabia na
verdade o que lhe incomodava - as pessoas quando fingem por muito tempo nĂŁo
ver, elas deixam de ver – o cavalo com o tempo confunde as rĂ©deas com brinquedo
para animal.
Por isso, ninguém mais
consegue ver que a cidade do Soyo está perdendo por completo a roupa da dignidade,
ninguém consegue notar a cidade do Soyo dançando na escuridão, os postes de
enfeites na via publica resistindo em dar o ar da sua luminosidade em noites
claras de escuros, ninguém mais consegue ver a baixa da cidade aos beijos com
lixo num perfume nauseabundo, ninguém quer ver os buracos na via pública, que
geram aquele incomodo que toca nos ossos em tempos de chuva.
Neste jogo das cabras
cegas, caĂmos em precipĂcios por nos recusarmos abrir os olhos ainda que por
fatias de instantes.
CaĂmos na carĂŞncia de
combustĂvel para os nossos geradores, quando assistimos aos risos o Contrabando
do mesmo nos Postos de Venda, - quando esse polia, esse aĂ mesmo sentado –
sobrevivente da extorsĂŁo em que os Cupapatistas e as Zungueristas sĂŁo as presas
fáceis nesta Cegueira Fingida. Esse polĂcia que por ser Cego Fingido nĂŁo vĂŞ o a
nossa gasolina acenando, entre chatas e botes nas aguas que conduzem aos paĂses
vizinhos.
NĂŁo havia quem nĂŁo
lamentasse, quando o vissem naquele estado de completa insatisfação. Pensei em
falar-lhe mas, tambĂ©m me finjo de cego, tenho CĂş – Duro, temo em transpor a
porta e ver a cara da cidade.
Enquanto vivo na
cegueira fingida, o meu bairro Ă© o melhor lugar do mundo. Dormirmos em sonhos
pretos aos sons dos geradores dos vizinhos - os da casa mais afastada morrem os
cinco, na semana passada - uns dizem que foi pelo fumo e outros porque
guardavam substâncias inflamáveis em lugares imprĂłprios – se suas casas sĂŁo
lugares imprĂłprios, onde seria o adequando? – É, nem penses perguntar isso de
novo ok?!
E os dias foram
passando num devagar penoso, já ninguém o via, ouvia-se apenas os seus gritos
de revolta ao alto, suas lamentações nos riachos, suas lembranças nas águas
pobres da praia.
Seu chorar foi
transformando-se em canto nos minutos seguintes. Morreu bwé de segundos depois.
Por um milagre não foi por doença - os kimbandas dizem que viram nas makumbas,
que foi porque o fidacaixa conseguia ver na terra dos cegos fingidos – onde os
olhos de ver sĂŁo proibidos, os olhos na aquela cidade pertencem aos mortos
vivos.
Seria bonito se a tia
saĂsse de casa algumas vezes, acredito que ela compreenderia a makumba que lhe
bondou - mãe é mãe, mas se não sair também não lhe culpo, culpo sim os
pára-quedas, que têm a maninha de incumbir encargos as pessoas por
conveniĂŞncia.
By: Nlando Tona
By: Nlando Tona
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