LIBERDADE CARNALESCA
Aprendemos todos os dias e da maneira mais dura, que a liberdade não passa de um mero conceito, uma ideia formal que não se pode materializar de forma plena e completa, por mas que evidenciemos esforços para isso. O mundo é um palco desmotivador para artistas que tentam embelezar com suas fragrâncias diferenças este espectáculo que é a vida.
Por mais que neguemos, vivemos todos encarcerados pelo receio, pelo horror de como seremos vistos pelos nossos vizinhos, amigos e desconhecidos que esbarramos ao longo das andanças quotidianas. A nossa forma de vestir, agir, dançar, caminhar e ate mesmo a nossa forma de expressar os sentimentos são fiscalizados. E se não os controlarmos, podemos pagar de forma muito cara. Por isso, fingimos estar despreocupado com o que os outros pensam, quando na verdade, o medo de não sermos aceites pelos outros nos corrói por cada segundo que paramos de frente ao espelho, na véspera de abrir a porta e sair pela rua à fora.
Para cada ciclo anual de 365/366 dias, existe um dia especial, um dia em que cada um pode ser o que realmente é. Um dia, em que a maioria das pessoas desguarnece as fantasias e aceitam-se tal como elas são; Sem os seus defeitos e nem suas qualidades. Porque na verdade estes pormenores perdem importância. O ser é bem mais importante. Neste dia, as pessoas são verdadeiramente felizes e livres. Sim eu disse livres. Sem o senso obrigatória de serem aceites por estes ou aqueles, elas são e isto basta.
NĂŁo vejo dia mais especial que o dia do Carnaval, onde tudo Ă© possĂvel e as pessoas sĂŁo. NĂŁo parecem, elas sĂŁo realmente. Quando estamos no carnaval, tornamo-nos tudo o que gostarĂamos de ser e o mundo aceita as nossas desigualdades sem exigĂŞncias. NĂŁo há nenhum outro dia em que as pessoas podem ser Padres, Prostitutas, Vagabundas, Bruxos, Reis e Princesas, sem nenhuma objecção. NĂŁo há nenhum lugar onde dançamos da forma mais dispersa e descarada; Onde nossos sentimentos vĂŁo ao rubro sem incomodar; Onde ser gordo, fininho e feio Ă© ser o centro das atenções e de jĂşbilo para os que te circundam.
O carnaval é liberdade. No carnaval a liberdade se materializa em plenitude. O ser é tão livre que partilha sua liberdade com quem está do seu lado e este, a partilha-a com outros, que partilham com outros e sucessivamente de forma afectuosa e folgazona. No carnaval não há exclusão, há harmonia, há dança, há folia.
Antes de olharmos o carnaval como manifestação cultural, sugiro que devĂŞssemos olhar o dia do carnaval como o verdadeiro dia da liberdade. Dia da manifestação da aceitação e emancipação. PĂłs, Ă© o Ăşnico dia do ano em que despimo-nos das mascaras e saĂmos a rua tal como somos. Sem vergonhas ou nexos. Sem medos de sermos rejeitados (as) pela sociedade. Devemos apreciar este dia que Ă© Ăşnico em cada ano, da maneira mais real e desfruta-lo com pureza de espirito verdadeiramente carnavalesca.
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