FLOR EM CÉU AZUL
Naquele dia de céu azul as flores falavam numa
língua baixinha, uma língua tão baixinha que só os que se embebiam de silêncio
conseguiam ouvir. Parecia que tudo perdera a pressa, a cidade encontrara o seu
freio. Só o silêncio da flor em céu azul falava.
A voz da flor em céu azul ouvia-se nas artérias da
cidade, no cantar dos lotadores, nos gritos das zungueras ou quem sabe, na
buzina dos carrão. Ele só conseguia ouvir a flor em céu azul quando parava.
Inerte e cativo num silencio amigo, um silêncio que caminha em cada canto do
corpo, um silêncio que faz a ligação do espírito e a alma.
A natureza calou-se no momento em que o homem se
esqueceu de que ouvir é bom. As pessoas falam muito. Sabem muito. As pessoas
são perfeitas se as avaliarmos pelos seus bonitos discursos. Parece que o
cantarolar dos pássaros incómoda, já que ninguém mais os quer ouvir!
A flor em céu azul sabia disto, por isso foi ter com
ele naquela tarde de sol. Uma tarde em que as pessoas caminhavam, uns para cá e
outros pˊra lá. A Via Publica é o palco com um auditório distraído. As dores,
preocupações e frustrações desfilam à velocidade da lanterna e parece que
ninguém vê.
São poucas as criaturas com a mesma capacidade de
ouvir que à que a Via Pública. Com ou sem asfalto, com ou sem buraco. Um dia
concluiremos que a mesma engole sapos e chuvas de problemas como mais ninguém
há-de engolir.
Ouvir é um exercício de elevação. É ouvindo que as
pessoas crescem. Ouvir bem agrega. Aprendemos e sempre aprenderemos uns com os
outros, o exercício da aprendizagem é guiado pela capacidade de ouvir, ouvir
não é somente calar-se enquanto outro fala, é antes de mais «reflectir em torno
de (…)» sentir o jogo das sílabas às vogais ao contexto exposto.
A via publica conversa com todos sem excepções. Ouve
os pedintes – a vergonha da maioria. Conversa com os gatunos - os que se acham
donos dela. O bêbado – que dançam sobre ela. O motorista desencartado, deleita-se
com os amores e suas maravilhosas traições, a Estrada é uma flor em céu azul.
Quando nos demos ouvidos, crescemos - crer ser -
exige um monólogo constante e verdadeiro - criamos um ambiente mais convidativo
para com os ouros. A elevação do auto conhecimento proporcionado pelo auto
ouvido consiste em se elevar e levar algo de bom aos outros.
A flor em céu azul, dizia que o profeta só o é, na
medida em que descobre que é parte de algo superior. Na medida em que nos
ouvimos compreendemos as nossas valências, e os nossos fracassos tornam-se
objectivos por superar. O sentido da vida reside ecoa nas artérias da alma. Fazer
as coisas menos por vaidade e mais por gosto é uma prática de elevação.
Os carros ainda não pararam de causar os enormes
buracos na via pública, mas ela aí está ai, silenciosa e sempre acolhendo todos
sem descriminação.
Ouvir, sorrir por ti e pelos outros é a forma magana
de reconhecer o valor da vida e sua complementaridade. Ser um mundo à parte
talvez seja agradável, mas, ser parte do mundo é bem melhor.
By; Nlando Tona
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